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Kelly Amorim, 1ª transgênero de Laguna a mudar de nome

Mais conhecida por Babalu, lagunense mudou de nome oficialmente em junho de 2018. Ela sempre quis escrever seu nome na história, e conseguiu.

“Uma pessoa sonhadora desde sempre”, assim se define Kelly Amorim. Aos 33 anos de idade, a lagunense, criada desde pequena no bairro Portinho, sonha em fazer história e ser conhecida no mundo. Parte disso já foi conseguido, Kelly inseriu seu nome na história. Na verdade, seu nome é a história de uma luta de muito tempo pela inclusão na sociedade. 

Em junho do ano passado, ela “nasceu de novo”. No dia 26 daquele mês, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) publicou resolução baixando normas para padronizar a mudança de nome de pessoas transgênero em todos os cartórios do estado. Uma das primeiras a tentar fazer a mudança e conseguir, foi justamente a personagem desta reportagem.

“Foi a realização de um sonho. Isso acabou com um constrangimento de ser chamada pelo meu nome ‘original’ na fila do banco, do hospital, por exemplo. Nasci de novo naquele dia”, comemora. 

Apesar do novo nome, é pelo apelido que ganhou ainda na infância – Babalu –, aos sete anos de idade, como forma de provocação, que ela se tornou conhecida, virando, praticamente, parte de sua identidade.

“Quando me apresentava como Kelly, o pessoal me cutucava, mas tu não era a Babalu?”, relembra. Ao falar de sua história, ela conta que desde pequena já tinha sua orientação sexual bem definida, assumindo que era homossexual aos quinze anos de idade. “Eu me assumi e logo no dia seguinte virei travesti”. O novo nome veio por influência da cantora Kelly Key, de quem ela diz ser fã.

Kelly Amorim com a nova certidão de nascimento – Foto: Arquivo pessoal

Babalu, cantora

O Carnaval sempre foi a época do ano que Kelly mais amou e se dedicou. A fama dela não seria outra, se não fosse as folias de Momo. Em 2015, depois de muitas disputas, ela ganhou o concurso de Musa da Pracinha, que abre as festividades carnavalescas de Laguna.

Até aí tudo bem. Porém, a prefeitura não pagou os R$ 700 pagos como premiação. Um cheque simbólico virou alvo de outdoors espalhados pela cidade com um pedido: “Você, troca esse cheque pra mim?”

A campanha realizada meses depois se tornou folclore. “Veio rainha de bateria de ‘1900 e bolinhas’ dizer que também não tinha sido paga”, diz. Inspirada pelo caso e motivada por amigos, Babalu chegou a compor uma música e lançar na internet.

Além de uma pretensa carreira musical, o embalo a tornou youtuber. Seu canal, acesse aqui, tem quase mil inscritos.

Babalu, servidora pública

Em sua vida, o primeiro emprego com hora de entrada e saída fixa apareceu em 2017. Naquele ano, Kelly, que ainda não havia feito a troca de nome, foi nomeada pelo prefeito Mauro Candemil (MDB), de Laguna, para ingressar no funcionalismo público atuando no setor de protocolos. Ao falar sobre o período, lembra que foi bem aceita. Porém conta um caso que aconteceu ao receber uma mulher para atendimento.

“Teve um caso engraçado […] que eu atendi uma mulher, que ela só sentou, já levantou e perguntou: ‘Mas tu é homem ou mulher?’ […] ‘ eu questionei se fazia diferença ser atendida por um homem ou uma mulher. Ela não respondeu. Se levantou e foi embora”, conta Kelly.

A trajetória de Babalu na vida pública no entanto iniciou um ano antes. Na campanha eleitoral de 2016, quando se renovaram as câmaras e prefeituras municipais pelo país, ela se filiou ao Partido Social Democrático (PSD) e foi uma das mais de 80 candidaturas de transgêneros que apareceram na urna, segundo levando a Folha de S.Paulo na época. Kelly teve 254 votos e não conseguiu a cadeira no Legislativo.

Seu período na prefeitura terminou meses atrás, quando o Município anunciou a exoneração de quase 70 cargos comissionados. A fase política, no entanto não. Babalu finalizou a entrevista concedida ao Jornal Sul, dizendo que enquanto não conseguir um espaço na política local não irá descansar. No momento, essa é sua principal meta: “Fazer história em Laguna”, afirma.

Foto: André Luiz/JS

*por André Luiz e Luís Claudio Abreu.