Como as igrejas cristãs estão lidando com a pandemia do Coronavírus

Por Lara Silva

Confira as medidas adotadas por igrejas de denominações cristãs para enfrentar o novo vírus, que já atingiu mais de 1800 pessoas no Brasil

As mãos não se tocam, nem os corpos se abraçam. Mas os joelhos continuam se dobrando em oração. Símbolos de fé, esperança e fraternidade, as igrejas de denominações cristãs adotam medidas para enfrentar este período de isolamento em razão do Coronavírus (Covid-19). Em uma pesquisa realizada em dezembro de 2019, o Datafolha divulgou que, no Brasil, 50% da população considera-se católica, 31% evangélica e 10% não seguem nenhuma religião. Os outros 8% pertencem a religiões espíritas, de matriz africana, judaica, além daqueles que intitulam-se ateus. Independentemente da denominação, católicos, evangélicos, adventistas ou seguidores de outras religiões unem-se de diversas maneiras, para continuar abastecendo sua fé e lutando para não desanimar diante da atual situação que o mundo enfrenta.

Desde o dia 25 de fevereiro deste ano, o Brasil vive uma realidade alarmante, consequência do aparecimento de um novo vírus da família CoV, identificado na China. O novo coronavírus tem tirado o sono de muita gente ao redor do mundo inteiro, e fazendo a população reforçar seus momentos de conexão com Deus e consigo mesmo. No domingo (8) durante o Angelus dominical, o Papa Francisco, autoridade máxima da Igreja Católica, manifestou, diretamente da Biblioteca Apostólica do Vaticano, solidariedade e afirmou estar em oração pelo mundo inteiro. “Uno-me aos meus irmãos bispos para encorajar os fiéis a viverem este momento difícil com a força da fé, a certeza da esperança e o fervor da caridade”, destaca o pontífice, por intermédio da correspondente do Vatican News Bianca Fraccalvieri.

Maneiras de se reinventar

Declarado como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Covid-19 já está presente em todos os continentes e fez com que as autoridades mundiais tomassem iniciativas para controlar a transmissão desse vírus. Em Santa Catarina não está sendo diferente. A partir do decreto n° 515, de 17 de março de 2020, assinado pelo governador do Estado, Carlos Moisés da Silva, e divulgado em todas as plataformas digitais desde a última terça-feira (17), declarou-se situação de emergência em todo o estado, ficando proibida, por exemplo, a circulação de veículos de transporte coletivo intermunicipal e interestadual, atividades e serviços privados não essenciais. 

Igreja Matriz Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Imbituba. Crédito: Vinícius Pacheco

Além disso, o decreto suspendeu também, durante 30 dias, a realização de eventos e reuniões, de caráter público ou privado, como excursões, missas e cultos religiosos. Frente a essa decisão, lideranças religiosas divulgaram a suspensão de suas celebrações por tempo indeterminado, evitando aglomerações e uma possível transmissão do vírus entre os fiéis. Em Imbituba, as igrejas se manifestaram por meio de comunicados oficiais, vídeos e publicações em redes sociais. Seguindo as orientações do bispo da Diocese de Tubarão, o pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Imbituba, padre Sérgio Gomes, estabeleceu que as missas presididas na Igreja Matriz da cidade serão privadas, transmitidas exclusivamente via internet e rádio local. 

Já na Igreja Adventista do Sétimo Dia, também de Imbituba, até a última terça-feira (17), as reuniões continuaram acontecendo até que o pico da doença apresentasse aumento, visto que os grupos das congregações é menor que os demais, segundo Rogério Mistura, pastor da Igreja. Não foi possível retornar contato com Rogério, para ver o atual posicionamento frente ao rápido avanço dos casos no estado e também no município. Para Amarildo de Freitas, pastor da Comunidade Cristã, que também seguiu os decretos municipais e estaduais e teve suas atividades suspensas, os cristãos foram “levantados para levar a Palavra de Deus a todos, então usaremos os meios disponíveis”. Através de mídias como WhatsApp, canal do Youtube, Instagram e Facebook, os encontros seguem acontecendo, porém de maneira virtual. “A história nos mostra que a igreja sempre que passou por algum tipo de luta, ela cresceu e o povo buscou mais a Deus. Cremos que é o que acontecerá nessa fase que estamos passando”, acrescenta Amarildo.

Aos católicos, emissoras como Canção Nova, Pai Eterno, TV Aparecida, estão transmitindo ao vivo as missas, terços e adorações ao Santíssimo, via televisão e internet. A equipe da Comunidade Bethânia, de São João Batista, em Santa Catarina, também está com uma programação toda on-line, divulgada em suas redes sociais. Tudo isso para fazer com que as pessoas sintam a presença de Deus de dentro de suas casas e não precisem se expor ao perigo. No entanto, apesar das orientações feitas por diversas autoridades, municipais, estaduais e religiosas de todo o mundo, o presidente Jair Bolsonaro declara que não vê motivo para estes ambientes estarem fechados. 

“Tem gente que quer fechar igreja. (…) Lógico, o pastor vai saber conduzir seu culto. Ele vai ter consciência, o pastor ou padre, se a igreja está muito cheia, falar alguma coisa, ele vai decidir lá. Até porque a garantia de culto e proteção ao ambiente do mesmo é garantido pela Constituição. Não pode um prefeito ou governador achar que não vai ter mais culto”,

disse Bolsonaro em entrevista ao Programa do Ratinho, no SBT.

Sem pânico: dicas para os fiéis enfrentarem a quarentena

As dificuldades são muitas. Medo, pânico, as temidas e recorrentes fakenews, os casos na vizinhança, tudo colabora para que as pessoas desanimem ou desistam daquilo que acreditam. No entanto, muitos cristãos têm utilizado suas redes sociais para ajudar seus seguidores a ocupar sua mente de uma maneira saudável e benéfica nesse tempo de resguardo. Deive Leonardo (@deiveleonardo), Bella Falconi (@bellafalconi) e padre Elinton (@peelinton), por exemplo, continuam publicando conteúdo cristão, como reflexões de diversos temas interessantes e atuais, bem como suas rotinas durante esse período. “Há várias possibilidades de convidar o povo a estar em sintonia com Deus. Nós da Comunidade Bethânia tivemos toda uma preocupação e atenção às pessoas que estão vivendo esse tempo isolado. Não é mais a gente que vai até a igreja, mas é a verdadeira experiência de sentir Deus visitando cada fiel”, explica o padre Elinton. 

“’Eis que estou a porta e bato. Se abrires, eu entrarei, e juntos faremos a refeição’. O que precisamos é abrir a porta da nossa casa e, sobretudo, a porta do nosso coração, para que o Senhor permaneça. Não importa o lugar que a gente esteja, confinado dentro de casa ou na rua, viajando. Se abrirmos a porta para o Senhor, estaremos sempre com Ele. E é isso que importa!”,

Padre Elinton, da Comunidade Bethânia.

Em uma agradável entrevista via Instagram (já que estamos falando de on-line), o padre Elinton sugeriu algumas atividades para os fiéis, católicos ou não, fazerem durante esse período de resguardo. Além de rezar o terço, algo muito importante para a religião católica, o padre indica assistir bons filmes e aproveitar para “ler, refletir e partilhar a Palavra de Deus”. “Existem vários filmes com histórias reais, filmes de santos, de pessoas que realmente foram um exemplo de vida para nós”, recomenda. Seguindo a mesma linha de raciocínio, o pastor Amarildo propõe a comunhão com os que estão na mesma casa. “É um bom momento para colocar a conversa em dia com a família, brinque com seus filhos, ria um pouco. Não podemos deixar esse tema tomar conta da nossa vida, precisamos continuar a vida”, finaliza o pastor.

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