Cultura açoriana: comunidade resgata história de Imbituba

Berço de colonização açoriana, o município de Vila Nova é uma das freguesias mais antigas de Imbituba e guarda tradições que vieram lá dos açores, há séculos atrás. Devido a tamanha importância, tanto para a cidade, quanto para a região, da cultura açoriana, comunidade resgata história de Imbituba.

Chegando no Brasil em 1617, os açorianos povoaram e colonizaram muitas terras brasileiras. Recém chegados, foram para Porto Alegre e Santa Catarina, por exemplo. Ao chegarem em Florianópolis – na época, Nossa Senhora do Desterro – foram divididos em casais, e em solos catarinenses deixaram muitas marcas. Desde a cultura até a gastronomia, são inúmeras as características açorianas em nosso estado. Como os açores são compostos por ilhas, não tinha praia, então os açorianos, quando chegaram aqui, precisaram se adaptar. Com os índios, aprenderam a pescar com rede, a manusear a tarrafa.

Um exemplo das marcas deixadas por este povo são os engenhos de farinha, os quais hoje são motorizados e não utilizam mais o boi. Os índios faziam farinha, porém em pequena escala, apenas raspavam a quantidade que a família utilizaria, moía, secava e produzia a farinha para tal comunidade. Ronaldo Augusto Pires, conhecido como Roni, é psicólogo atuante e historiador, e sempre gostou de estudar sobre a cultura açoriana. “Para eu saber quem eu sou, eu preciso olhar para trás, olhar de onde eu vim”, explica. Por volta de 2005, Roni começou a fazer sua árvore genealógica, motivado por seus avós, que sempre o instigaram a gostar de história.

O começo foi através de perguntas, pretendia saber o que sua família sabia sobre os antepassados. Depois, já tendo conseguido alguns nomes, foi para Tubarão, onde tinha a Igreja dos Mórmons. Nesse local, eram disponibilizados Livros Eclesiásticos, com informações de 1700 e 1800, onde pesquisou durante muito tempo. Segundo ele, o trabalho é bastante minucioso e difícil. “Até que chegou um nome que os documentos bateram com os que eu tinha. Eu tenho a documentação que prova que esse homem, pertencente a minha genealogia, nasceu na Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, governo de Portugal”, revela.

Casa Açoriana

Carregando consigo o enorme desejo de não deixar essa cultura – sua e da cidade – cair no esquecimento, o psicólogo conversou com alguns amigos e abriu a Casa Açoriana Freguesia Sant’Anna de Vila Nova. O seu sonho, hoje, ajuda professores, pesquisadores, turistas e, claro, os próprios imbitubenses. Há 10 anos pesquisando e se aprofundando sobre a cultura açoriana, Roni explica que atualmente o projeto conta com 30 cooperados, que ajudam, todo mês, no pagamento do aluguel, luz e água. “As mulheres produzem colchas de retalho e nós fazemos bingos e rifas, para arrecadar fundos”.

Inaugurada em 1º de julho de 2018, a Casa Açoriana, que está caminhando para o seu segundo aniversário, funciona todas as segundas e sextas-feiras, oferecendo oficinas à comunidade e aos cooperados. “Temos oficina de tear, para fazer tapetes, de colcha de retalho e também preparamos bate-papos sobre a cultura açoriana”, destaca Roni. As visitas acontecem mediante agendamento prévio e contam com palestra sobre a história da cidade, seguida de uma caminhada até a igreja, a fim de mostrar os entornos do centro histórico. Tudo isso para que os alunos consigam aprender e produzam seus trabalhos escolares.

A abertura foi noticiada em seis jornais da cidade e a equipe da Unisul TV fez a cobertura do evento. “Isso nos deixou muito animados, porque cria um nome para a nossa iniciativa”, conta. Hoje, a Casa faz parte do roteiro turístico de Imbituba, sendo incluído na rota feita pela Prefeitura Municipal da cidade. “Nós já recebemos até blogueiros do Brasil, que souberam e vieram conhecer. Nós costumamos oferecer um café açoriano, a rosca de polvilho, banana frita com farinha de mandioca, pão de ló. O que é dessa iguaria, nós gostamos de apresentar aos visitantes”, acrescenta.

“Ela é fantástica, porque as pessoas se deslumbram quando chegam aqui, principalmente aquelas de mais idade, que relembram os itens expostos na Casa”.

Ronaldo Augusto Pires
Foto: Lara Silva

Festa do Divino Espírito Santo

Além de toda essa contribuição histórica e cultural para Imbituba, a Casa Açoriana também colabora com a Festa do Divino, sendo palco para a apresentação antes da missa festiva de encerramento. “O Imperador e a Imperatriz saem daqui. Nós montamos a casa como um império, trazemos dois tronos, a Imperatriz fica aqui e o Imperador vem com a Santa Ana, entra e pega a Imperatriz. O casal primeiro festeiro está com a coroa e com o cetro, símbolos da festividade, e saem em procissão à missa, onde acontece a coroação do Imperador, que marca o fim das celebrações.

“A banda tocando durante a procissão mobiliza as pessoas. Claro, tem o cunho religioso, mas também o histórico. A gente quer propagar, porque é um culto de 268 anos”.

Ronaldo Augusto Pires

A equipe responsável pela Casa Açoriana demonstra tanto interesse pela cidade que já participou de mais de 20 eventos. Além disso, o espaço foi cenário para o vídeo de 61 anos de Imbituba, comemorados em junho de 2019. As cooperadas tornaram-se açorianas e simularam os trabalhos tradicionais desta cultura. “Isso para nós é muito gratificante, porque queremos divulgar e voltar a ter a vivência da cultura açoriana”, finaliza.

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