Guerra civil e computadores, há algo em comum?

O conflito que já dura há 73 anos pode estar perto do fim. Entenda porque todas as lentes do mundo estarão voltadas para o Mar da China nesses próximos anos.

O começo do mês de agosto ficou marcado pela escalada nas tensões entre China e Taiwan. A visita de Nancy Pelosi, Presidente da Câmara dos Estados Unidos, à ilha causou uma enorme instabilidade local e “fez sair faíscas” na região do Mar da China. O governo chines viu a movimentação como um ataque a sua soberania.

Tão antigo quanto essa disputa entre China e Taiwan, é a vontade expressa publicamente do país comunista de retomar a ilha. Em 2021, na comemoração dos 110 anos da revolução que pôs fim ao Império Chinês, o presidente Xi Jinping declarou que iria buscar a reunificação de Taiwan por meios pacíficos, declaração essa que foi retirada no último dia 10 de agosto deste ano. Após a escalada nas tensões entre os países, agora, a possibilidade do envio de tropas para a reunificação da ilha voltou a ser discutida.

A República Popular da China e Taiwan (Republica da China) eram uma só nação até o final da Guerra Civil que dividiu o país em uma disputa entre comunistas e nacionalistas. Com a derrota iminente, os nacionalistas do Kuomitang se retiraram para a parte insular do país, onde hoje é Taiwan. O Partido Comunista Chinês (“PCC”) nunca reconheceu Taiwan como um país autônomo, tratando-o como uma “província rebelde”.

Inicialmente, tanto os EUA quanto a ONU, por motivações políticas, reconheciam Taiwan como a “verdadeira China”, posição que não se sustentou com o desenvolvimento da China a partir dos anos 70.

Em 1971, a RPC tomou o lugar da RC dentro da ONU e do Conselho de Segurança. Ambos os países baseavam as suas relações diplomáticas na política de “uma só China”. Esta política trazia como princípio que existe apenas uma China e que a China Popular, o Tibete, Hong Kong, Macau, Xinjiang e a China Nacional (Taiwan), são parte daquela China. Todos os países que desejem manter relações diplomáticas com a China Comunista ou Taiwan são obrigados a reconhecer este princípio e, portanto, cortar as relações oficiais com o outro país.

Os EUA, tal qual a grande maioria dos países do mundo, principalmente os mais desenvolvidos, reconhecem a China Popular como a única China. Apenas 15 países são aliados formais de Taiwan – e nenhum deles figura entre os países mais desenvolvidos do mundo. Com exceção desses 15 países, cerca de outros 50 mantém relações informais com Taiwan enquanto reconhecem a China Comunista como a única China. Brasil e EUA são um dos exemplos de países que mantém esses acordos informais.

Mas porque a China não anexou Taiwan logo após a vitória da Revolução? Pra chegarmos a resposta temos que voltar até 1949, com a China em uma situação diferente da que se encontra hoje. O país era semi-feudal, tinha acabado de passar por vários conflitos e principalmente, não tinha desenvolvido uma armada capaz de uma invasão em larga escala na ilha. A defasagem na marinha chinesa fez com que essa invasão fosse adiada, mas nunca deixasse de estar no radar.

Voltando ao século XXI

Mas então o que fez uma ilha três vezes menor que Santa Catarina ser tão importante no cenário mundial? É em Hsichnu, uma cidade no noroeste da ilha que há a sede da TSMC, a maior fabricante de microchips do mundo. Responsável pelos microchips presentes nos smartphones, geladeiras, misseis e nas maiores fabricantes de veículos do mundo. Na ilha ainda existem outras 19 fábricas da empresa. Esse investimento em semicondutores é o grande trunfo estratégico da pequena ilha. Taiwan detém cerca de 30% da produção de microchips do mundo.

O interesse americano na autonomia de Taiwan está exatamente aí. Desde o governo Trump, há uma pressão para que a empresa abra novas fábricas dentro dos EUA, fornecendo uma maior autonomia para o país dentro desse mercado. A condição americana, e que barra o processo, é que os chips produzidos não fossem vendidos e utilizados na China. Atualmente há duas fabricas da gigante dos semicondutores nos Estados Unidos.

Com o aumento da tensão geopolítica, o presidente da TMSC, Mark Liu (Um dos vários líderes e empresários que Pelosi visitou durante sua estadia em Taiwan), declarou que uma invasão chinesa poderá levar “ao mau funcionamento” das fábricas, deixando-as inoperantes e causando uma grande crise global.

O conflito vai muito além dos semicondutores. Ele deve trazer a destruição da ordem mundial baseada em regras e mudar totalmente o cenário geopolítico.

Mark Liu, em entrevista a Rede CNN

O CEO ainda terminou a entrevista declarando que o conflito seria ruim para os três lados e que esperava o melhor, mas estava preparado para o pior.

Haverá guerra?

A República da China considerou a visita uma afronta a soberania do país e isso reacendeu a crise geopolítica na região do Mar da China. Poucas horas depois de Pelosi pousar em Taiwan, a China já havia anunciado vários exercícios navais ao redor de Taiwan e algumas demonstrações militares dentro do espaço aêreo taiwanês.

O desejo da China de retomar a ilha ainda esbarra em outros obstáculos além do econômico e se expandem para o meio militar e político.

Hoje, Pequim tem 3 porta-aviões, dois ativos e um que só estará operacional em 2025. Nenhum deles nuclear. Essa é uma das barreiras faz com que mesmo com uma escalada nas tensões, a invasão chinesa irá esperar pelo menos até 2025. Em comparação, os EUA tem 11 porta-aviões, todos nucleares.

Ademais, este ano é ano de eleição na China. A pressão política em cima de Xi Jinping, que não é unanimidade dentro do Partido Comunista Chinês, pressiona o atual presidente a limitar os movimentos contra Taiwan apenas a exercícios militares.

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