Consumo consciente: cosmetologia e autoconhecimento

Desde o início dos anos de 1970, o planeta entrou em déficit ecológico. Esta é uma afirmação da Global Footprint Network (GFN) para dizer que o consumo incontrolável e compulsivo vem trazendo consequências negativas ao meio ambiente há tempos. O ato de consumir afeta não apenas quem faz a compra, mas também a natureza, a economia e a sociedade como um todo. 

Este consumo em excesso tem levado a uma superexploração dos recursos naturais do planeta, o que pode provocar a escassez e até um esgotamento desses recursos, comprometendo o equilíbrio ambiental. “O motivo deste processo de degradação do planeta é nosso atual padrão de consumo, que exige uma quantidade maior de recursos do que a natureza consegue oferecer”, aponta a Global Footprint Network. A GFN é  uma instituição sem fins lucrativos de especialistas de natureza investigativa e reflexiva.

Então, exceder no consumo ou consumir de forma consciente pode fazer toda a diferença. Mas o que é consumo consciente? E onde ele pode ser aplicado? Há diversas respostas para isso, mas a principal é que a elaboração do produto não envolva a exploração de seres humanos, animais e não provoque danos ao meio ambiente. 

Um dos exemplos onde esse conceito tem sido aplicado é no ramo da cosmetologia. Kamila Soratto da Silva é dona da marca Kamomila Natural, que tem como o propósito desenvolver o autoconhecimento nas suas clientes, fazendo com que cada uma repense o que consome. Segundo Kamila, é necessário também uma compreensão do quanto seu corpo reflete suas atitudes e a cosmetologia vem como algo para ajudar nesta auto-observação.

“Nosso objetivo é que nossas clientes aprendam a se observar e se sentirem cada vez melhores com seu interior e exterior, e faz muito sentido ouvir os feedbacks das clientes, relatando como reagiu cada produto com cada pessoa”, afirma.

Kamomila Natural

Graduada em artes visuais e pós-graduada em moda, Kamila passou 6 anos trabalhando no ramo da moda, na área de estamparia. Ela se queixa que, embora goste muito de trabalhar no desenvolvimento e com o que aflore sua criatividade, não estava satisfeita com o seu antigo emprego. Kamila passava 8 horas dentro de um escritório sem contato real com pessoas.

Antes de deixar o emprego, conta que primeiro buscou por outra fonte de renda, se aventurou pela área da confeitaria, fotografia pet, mas não deu certo. No meio das pesquisas por uma nova área, se encontrou em um canal sobre saboneteira. “Busquei uma forma simples de produzir, acreditei e apostei na produção de sabonetes e outros produtos 100% naturais”, complementa. 

Com o passar do tempo, a procura foi se expandindo para argilas, cuidados com o rosto, xampus, óleo naturais, e Kamila foi se especializando cada vez mais no assunto. Foi neste meio em que ela se descobriu e afirma que sua rede de apoio foi muito importante em todo o processo de “estabelecimento” da marca. Ela recebe o auxílio de sua mãe na produção e na entrega dos cosméticos, e de seu companheiro na divulgação e na identidade visual da Kamomila.

Mensalmente Kamila aperfeiçoa seus estudos e produtos. São analisadas as sugestões das clientes, tanto de produtos existentes quanto de novos produtos, para reformular e melhorar cada vez mais suas composições. Ela afirma que houve uma evolução de cada produto, desde a fundação da empresa em junho de 2018.

“Buscamos a relação com o público para ver o que realmente eles querem. Um exemplo disso são nossas argilas que eram a base de água e hoje tem uma consistência mais cremosa e feitas com manteigas e óleos essenciais”.

Kamomila e o meio ambiente

Além de todo esse contato com a natureza na hora de produzir algum produto, a marca se preocupa com cada ingrediente que pode fazer mal aos animais e meio ambiente. Existem produtos que são feitos de origem não animal, mas que podem conter componentes químicos que trarão prejuízos ecológicos se retornarem à natureza. Por isso, a Kamomila também são tem cuidados com suas embalagens, que são reutilizadas para não gerar desperdícios. 

Antes a empresa embalava seus produtos com jornal e hoje repassa a embalagem que recebe dos seus fornecedores. “Quando a gente compra uma embalagem de vidro do nosso fornecedor, ela vem com plástico bolha, e nós o enviamos o mesmo plástico protegendo a embalagem para nossas clientes, e esperamos que elas continuem com o ciclo, e não simplesmente o joguem fora”, explica. Cada formulação é embalada de uma maneira diferente, há aquelas em embalagens de vidro e de plásticos, e visando a “sustentabilidade” para essas embalagens, Kamila desenvolveu uma promoção, em que cada embalagem devolvida em perfeito estado de conservação, o cliente recebe 10% de desconto. 

Mudando vidas

Embora seus clientes sejam um grupo composto quase todo por mulheres, ela também produz cosméticos para homens, e acredita que há muitas barreiras a serem quebradas ainda no mundo da beleza. “Cuidar de si é muito mais que estético, e os homens precisam ter cuidados com sua pele também”, defende.

Kamila, além de produzir e vender seus produtos, ministra uma oficina de beleza, onde ensina mulheres e homens a produzirem seus próprios cosméticos naturais, dando certa autonomia a essas pessoas. Sobre o receio de perder clientes os ensinando a produzir, ela afirma que é muito importante que as pessoas aprendam o que elas estão consumindo. “Muitas vezes as pessoas não têm tempo para produzir seus próprios cosméticos e acabam comprando”, explica.

Além disto, a jovem tem uma influência positiva na vida de suas clientes. Juliana Vargas afirma que a Kamomila Natural a ajudou a se conscientizar em relação a importância da sustentabilidade. Atualmente, ela tenta manter uma vida ligada ao seus ideais e usar uma marca que se preocupa isso. “Eu acompanho a marca sendo cliente e usando os produtos e todas as dicas que a marca me fornece pelas mídias sociais. Acho que o trabalho dela é incrível e muito consciente”, acrescenta.

A cliente Daiane Venson afirma que o autoconhecimento que adquiriu após usar os produtos da marca trouxe inúmeros benefícios para sua pele e autoestima. Uma de suas melhores experiências foi com o desodorante natural, que equilibra seu cheiro natural e que a fez perceber que antigos produtos que usava nas axilas a intoxicavam, que o mau cheiro após um dia quente não era natural dela e sim dos componentes que estavam nos seus poros. “Hoje eu me sinto livre e limpa usando o desodorante”, afirma. 

Empreendedorismo feminino

O empreendedorismo tem despertado mais interesse das mulheres, de acordo com a pesquisa GEM Brasil 2015 (Global Entrepreneurship Monitor). A proporção de “Empreendedores Novos” – os que têm um negócio com menos de 3,5 anos – é maior entre elas: 15,4% contra 12,6% de homens. O estudo constatou ainda que as mulheres empreendem movidas principalmente pela necessidade de ter outra fonte de renda ou de adquirir independência financeira. 

As análises feitas pelo Sebrae mostram que as mulheres empreendedoras são mais jovens e têm um nível de escolaridade 16% superior ao dos homens. Entretanto, elas continuam ganhando 22% menos que os empresários, uma situação que vem se repetindo desde 2015, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2018, os donos de negócio tiveram um rendimento mensal médio de R$ 2.344, enquanto que o rendimento das mulheres ficou em R$ 1.831.

Diante destes dados, Kamila defende que por ela ser mulher, teve uma rede de apoio vindo de outras mulheres, o que torna mais fácil continuar na jornada mesmo sabendo que os homens recebem mais pelo mesmo trabalho. “Eu sinto que há um corporativismo muito grande das mulheres entre si”, acrescenta.

Os dados são coerentes com a média nacional, que aponta que hoje elas representam 48% dos Microempreendedores Individuais (MEI) e atuam principalmente em atividades de beleza, moda e alimentação. Quanto ao local de funcionamento do negócio, 55,4% das MEI estão sediadas em casa. Esse quadro se encaixa perfeitamente na situação da Kamomila Natural, que não possui um espaço físico de atendimento, recebe o auxílio de sua mãe na produção e na entrega dos cosméticos e a produção é feita na sua própria casa.

Sobre o empreendedorismo feminino, Kamila afirma que não é fácil empreender. Há diversas questões que prejudicam a saúde mental de um empreendedor e o romantismo em ter seu próprio negócio muitas vezes máscara que na realidade existe muito trabalho envolvido. “O maior desafio de empreender, principalmente com o que a gente ama, é saber quando é necessário se pôr em primeiro lugar”, finaliza.

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