Isolamento social: mulheres desprotegidas em seus lares

Com o avanço do coronavírus, mulheres estão cada vez mais expostas e vulneráveis. São maioria entre os profissionais da saúde, enfrentam sobrecarga das tarefas domésticas e, com o isolamento social, ainda vêem multiplicadas as ameaças de feminicídio.

O estresse provocado pela sobrecarga de afazeres no lar já é uma realidade. Devido ao saturamento dos sistemas de saúde e ao fechamento de creches e escolas, “as tarefas de cuidado recaem principalmente sobre elas, que, em geral, têm a responsabilidade de cuidar de familiares doentes, pessoas idosas e crianças”, destaca um dos documentos produzidos pelo organismo internacional, com foco na América Latina e no Caribe.

Por que a pandemia tende a atingir mais a parcela feminina da população

  1. Elas estão mais expostas ao coronavírus, porque 70% dos profissionais da área de saúde no mundo são mulheres;
  2. As medidas de isolamento social estão contribuindo para elevar as estatísticas de violência doméstica e feminicídio no mundo;
  3. As mulheres são apenas 25% dos parlamentares e menos de 10% dos chefes de Estado ou de governo no mundo e, portanto, não têm poder de decisão na pandemia;
  4. Elas estão sendo ainda mais sobrecarregadas com tarefas domésticas e cuidados com outros membros da família, o que eleva a carga de estresse;
  5. Com o fechamento de escolas e creches, a capacidade das mulheres de se envolverem em trabalho remunerado enfrenta barreiras extras. Em média, elas continuam sendo remuneradas 16% menos que os homens e a disparidade salarial sobe para 35% em alguns países. Em tempos de crise como esse, elas geralmente enfrentam a opção injusta de desistir do trabalho remunerado para cuidar de crianças em casa;
  6. Há evidências de que os impactos econômicos da covid-19 afetarão mais a ala feminina, já que mais mulheres trabalham em empregos mal remunerados, inseguros e informais.

Recomendações da entidade para atenuar os impactos da pandemia sobre as mulheres

  1. Garantir a disponibilidade de dados por sexo, incluindo taxas de infecção, impactos econômicos, carga de atendimento e incidência de violência doméstica e abuso sexual;
  2. Incorporar as perspectivas de gênero e as orientações de especialistas na área nos planos de resposta e nos recursos orçamentários;
  3. Fornecer apoio prioritário às mulheres na linha de frente de combate à doença, melhorando o acesso a equipamentos de proteção e a produtos de higiene menstrual, além de acordos de trabalho flexíveis para aquelas que tenham pessoas sob seus cuidados;
  4. Garantir voz igual para as mulheres na tomada de decisões na resposta e no planejamento de impacto a longo prazo;
  5. Garantir que as mensagens de saúde pública sejam direcionadas adequadamente às mulheres, incluindo as mais marginalizadas;
  6. Desenvolver estratégias para mitigar o impacto econômico do surto nas mulheres e desenvolver a resiliência entre elas;
  7. Proteger serviços essenciais de saúde para mulheres e meninas, incluindo serviços de saúde sexual e reprodutiva;
  8. Priorizar os serviços de prevenção e resposta à violência de gênero nas comunidades afetadas pela covid-19.

Casos aumentam na região de Tubarão

De acordo com informações repassadas pela Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso de Tubarão, no período de isolamento aumentou o número de denúncias anônimas, via 181, e que tal canal é o adequado para que as denúncias sejam realizadas pela própria vítima quando impossibilitada de comparecer à Delegacia.

Quanto ao aumento de casos de violência doméstica em Tubarão no período da quarentena, segundo a Delegada Gabriela Tisott Fruet, os registros policiais não indicam o aumento, por ora. Também é possível a vítima registrar o B.O pela internet, via site da PCSC. Entretanto, para o pedido de medida protetiva, faz-se necessário o comparecimento da vítima na Delegacia. 

Em outras cidades da região foram registrados, pela Polícia Militar de Criciúma, 225 casos de violência doméstica durante a quarentena. Os dados divulgados são referentes aos dias de 19 de março até 25 de maio. Os números são das cidades de Criciúma, Forquilhinha, Siderópolis, Nova Veneza, Trevisol e Siderópolis.

A Operação “Marias” foi criada para cumprir mandados de prisão, busca e apreensão para crimes que se encaixam em violência doméstica e fiscalizar medidas protetivas em várias cidades da região de Laguna (67), Imbituba (45), Garopaba (16) e Imaruí (14).  A operação contou com 16 policiais civis e sete viaturas.

Casos de Violência Doméstica noticiados no sul de Santa Catarina após a quarentena

No dia 12 de junho um homem de 35 anos foi preso por violência doméstica em Araranguá, ele agrediu a esposa e a filha de dois de anos com cintadas. O homem foi preso em flagrante e levado para a Central de Plantão Policial. A mulher agredida de 36 anos, estava com lesões no braço direito e o agressor é usuário de drogas e álcool. O motivo para cometer tais crimes foi a tentativa de sair para comprar entorpecentes. Além disso, o agressor ainda ameaçou a companheira de morte caso fosse preso.

Fonte: Agora Sul

Em 18 de abril em Laguna um indivíduo chegou em sua casa embriagado quebrando a janela, logo após agrediu sua esposa com socos, tapas e empurrões. Uma criança de 12 anos que é filho do casal se escondeu no banheiro que teve a porta arrombada pelo homem atingindo a cabeça do menino e o ferindo. Ele foi preso, levado à delegacia de polícia da cidade.

Fonte: Notisul

Em Braço do Norte, um homem foi preso por porte ilegal de arma de fogo no dia 7 de maio, a investigação se deu por ele ter utilizado destas armas para violência doméstica. Haviam duas armas, aproximadamente 200 munições no local que através de um mandado de busca e apreensão. A vítima solicitou medidas protetivas.

Fonte: Notisul

No município de Turvo, no dia 3 de junho, em um ato diferente dos outros casos, um homem foi preso por ameaçar atear fogo na sua mãe, uma idosa de 74 anos, ele foi preso por violência doméstica e levado ao Presídio Regional de Araranguá. Ele também tinha um mandado de prisão em ativo para estupro de vulnerável.

Fonte: Engeplus

Na madrugada do dia 14 de junho, a Polícia Militar de Sombrio foi acionada para atender um caso de violência doméstica no centro da cidade, um homem invadiu o apartamento da ex-companheira e enfurecidamente, quebrou vários objetos, móveis e eletrodomésticos. Após algumas buscas o homem foi encontrado, preso e encaminhado à delegacia.

Fonte: Portal Agora

Na noite do dia 8 de junho, em Lauro Muller, um homem quebrou os vidros do automóvel de sua ex-mulher. A vítima ao chegar perto de seu carro foi ameaçada de morte e machucada no rosto com um golpe de tesoura. Ela foi levado ao hospital e seu agressor preso.

Fonte: Diário do Sul

No dia 31 de maio, um homem foi preso na cidade de Imbituba por Lei maria da Penha e possivelmente por estupro de vulnerável. A solicitante relatou que sua filha, de 5 anos, disse que teria sofrido abuso sexual do padrasto. Ele estava em um bar onde foi preso e levado à delegacia.

Fonte: RSC Portal

ONU pede proteção a mulheres e crianças

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do seu secretário-geral, António Guterres, emitiu um apelo pela proteção das mulheres e crianças nesse período de isolamento social. E aquelas que sofrem violência doméstica possam denunciar esses casos, nos estabelecimentos que estão abertos, como as farmácias e mercados, sem que seus agressores desconfiem.

De acordo com o secretário, nas últimas semanas, à medida que as pressões econômicas e sociais pioraram e o medo aumenta, o mundo vive um surto horrível de violência doméstica. “Infelizmente, muitas mulheres e crianças estão particularmente em risco de violência exatamente onde deveriam ser protegidas. Nas suas próprias casas. É por isso que hoje apelo por uma nova paz em casa, nas casas, em todo o mundo”, acrescenta.

Depoimento de Jair Bolsonaro sobre o assunto

O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no dia 29 de março, utilizou o tema para propor que o isolamento social seja apenas para idosos e grupo de risco e justificou, sem estática nenhuma, que a violência doméstica aumenta pela falta de alimento em casa e afirma que nesses casos “ninguém tem razão”.

Campanhas de entidades

Com esta vulnerabilidade sofrida pelas mulheres em suas próprias residências, algumas instituições e empresas começaram campanhas para ajudar essas mulheres a denunciarem seus agressores.

Botão de denúncia da Magalu: O aplicativo do Magazine Luiza, chamado Magalu, ganhou uma nova funcionalidade permanente: um botão para denúncias de violência contra a mulher. O serviço permitirá que qualquer pessoa ligue diretamente para o 180, número da Central de Atendimento à Mulher criada em 2005 pelo governo federal.

O botão está disponível desde o ano passado no App, mas com o isolamento provocado pelo novo Coronavírus, há uma grande preocupação das entidades ligadas ao assunto de que haja um aumento no número de casos de violência doméstica em todo o mundo.

Instituto Maria da Penha: Uma reunião em videochamada de uma empresa, aparentemente corriqueira, é o cenário de uma campanha do Instituto Maria da Penha (IMP) sobre violência doméstica durante a quarentena. Esse tipo de crime aumentou em até 50% em alguns estados brasileiros no período da pandemia do novo Coronavírus, sendo que a maioria dos casos aconteceu dentro de casa.

No vídeo, um encontro matinal da equipe é interrompido após uma das funcionárias, a personagem fictícia Carla, aparecer muito maquiada às 10h da manhã e relatar para a colega de trabalho, Mariana, que foi agredida fisicamente pelo companheiro. Ao saber da situação, ela chama a polícia para salvar a amiga.

Depois de 10 minutos, Carla atende o interfone e avisa o agressor que chegou uma encomenda para ele. Quando ele sai da casa, Mariana grita: “Tranca, tranca! Amiga, já tranca, não perde tempo! Tranca tudo! A polícia chegou?”. Imediatamente, a vítima levanta, fecha a porta e volta ao vídeo da ligação, chorando.

Governo Federal: Com o lema Denuncie a Violência Doméstica – Para Algumas Famílias, O Isolamento Está Sendo Ainda Mais Difícil, a campanha aborda não somente a violência contra a mulher, mas também contra idosos, pessoas com deficiência, crianças e adolescentes.

O governo disponibiliza os canais de atendimento da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o Disque 100, o Ligue 180 e o aplicativo Direitos Humanos Brasil, responsáveis por receber, ouvir e encaminhar denúncias de violações aos direitos humanos. Pelo aplicativo é possível, inclusive, enviar fotos e vídeos que, segundo Damares, já antecipam a prova do crime.

TJSC: A Cevid (Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar), do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), idealizou a campanha “Confinamento sem Violência me Representa”, com o objetivo de ajudar vítimas de violência doméstica com dificuldades para denunciar. Qualquer interessado pode imprimir os cartazes e afixar em locais com circulação de pessoas.

As publicações referentes à campanha nas redes sociais deverão, preferencialmente, utilizar as hashtags #confinamentosemviolência, #ajustiçanãopara e #nãosecale.

Salma Hayek: A atriz indicada ao Oscar Salma Hayek lançou uma campanha para combater a violência contra mulheres confinadas em casa por causa do coronavírus, pedindo aos seus milhões de seguidores nas redes sociais que “se solidarizem com as mulheres”. A campanha #StandWithWomen está sendo realizada pela iniciativa da marca Gucci ‘Chime For Change’, fundada por Hayek e pela cantora Beyoncé em 2013 que ajuda a financiar organizações que combatem a violência doméstica em todo o mundo.

Sobre a violência

Para a psicóloga Celina Luci Lazzari, que trabalha em São Ludgero com violência contra a mulher, essas manifestações acontecem sim nas formas mais conhecidas – como empurrões, chutes, socos, tapas e outras agressões -.  Mas a violência também existe sem ser física. Além do cárcere privado (ou seja, prender a mulher em casa), perseguições ou ameaças, ela aponta algumas situações às quais é importante que se preste atenção para identificar um relacionamento abusivo:

– Ele faz você se sentir culpada constantemente;
– Te impede de ter amigos e te afasta da sua família;
– Controla roupas e acessórios que você usa;
– Pressiona para ter relações sexuais;
– Rouba suas senhas e invade suas redes sociais;
– Te difama para as pessoas, fala que você é louca;
– Fala coisas ruins sobre seu corpo;
– Faz você se sentir incapaz de tomar decisões;
– Te humilha, xinga e insulta;
– Expõe sua vida íntima;
– Controla o dinheiro ou retém documentos;
– Destrói objetos pessoais ou instrumentos de trabalho;
– Proíbe de trabalhar ou estudar;
– Se nega a usar preservativo;
– Ameaça com qualquer tipo de arma;
– Impede de realizar compras com seu dinheiro;
– Você tem medo de ficar sozinha com ele;
– Ele se descontrola durante as brigas;
– Ele maltrata/mata seus animais de estimação;
– Ele faz questão de contar que tem uma arma ou a exibe para você;
– Ele tem envolvimento com criminosos e lhe ameaça dizendo que  alguém fará o ‘’serviço sujo’’ por ele;
– Ele faz “escândalo” na porta da sua casa ou trabalho;
– Persegue e insiste em mais uma chance nas tentativas de término do relacionamento;
– Diz que se você não for dele não será de mais ninguém.

Celina explica que há todo um conjunto de elementos que são analisados na pessoa e com a pessoa para perceber se ela está sofrendo violência . Na verdade, quando a situação deixa uma marca, geralmente é “mais fácil” para a mulher sair da situação, porque não há como negar o fato. “Fica evidente que aconteceu alguma coisa que não era pra ter acontecido.  E quando não é assim a pessoa acaba racionalizando ou negando o que aconteceu porque existem fatores que mantêm ela no relacionamento,” esclarece a psicóloga. “Estes outros tipos de violência tem um grau maior de dificuldade de superação.”

O modo de pensar que (não) ajuda

A forma de se pensar que leva a estes relacionamentos abusivos tem muito a ver com a ideia de propriedade, que por sua vez leva ao tão falado machismo. Ou seja, de forma simplificada, a ideia de que o homem é superior à mulher e a homens com características consideradas femininas. De acordo com Celina, em vários destes casos, “a ideia que o homem acaba fazendo – e aprendendo – é a de que ele pode dispor das mulheres enquanto objeto.” E, quando você lida com alguém como se fosse objeto, isso te autoriza a descartá-lo, se satisfazer com ele como é mais conveniente, determinar “o que fazer com ele” e “o que não fazer”.

Porém, isso não quer dizer que estes homens tenham realmente parado para refletir sobre isso ou tenham uma “maldade interior”. “É uma ideologia muito forte e isso já vem muito marcado, ensinado por suas mães, pela relação da mãe com o pai, na verdade, de que é assim que funciona”, pontua. Para um homem que repete a relação que aprendeu, por exemplo, pode ser que procure rapidamente outra mulher após a relação, não porque quer estar com alguém, mas porque acha que precisa ter o suporte de todas as atividades domésticas (enquanto ele dá as condições financeiras). Celina frisa que é uma relação que traz diferença de poder e muitas vezes dependência financeira, que é uma armadilha fortíssima para muitas mulheres. Afinal, se você e seus filhos dependem do dinheiro do marido, como pegar as malas e sair de casa?

Onde buscar ajuda

O Creas, ou Centro de Referência Especializado de Assistência Social, de acordo a psicóloga Cristiane Dandolini, é o espaço considerado “oficial” para atendimento de mulheres vítimas de violência. Eles também dão assistência a outras pessoas em situação de risco ou que tiveram seus direitos desrespeitados. As equipes de proteção social especial são designadas para este trabalho – normalmente duplas de um(a) psicólogo e um(a) assistente social, que, na sua melhor forma, contam também com um(a) advogado -. O atendimento é, de forma geral, presencial, mas pode acontecer também por videochamada, dependendo do caso. Em Tubarão o funcionamento continua normalmente.

 Algumas cidades têm a Rede Catarina de Proteção à Mulher, que oferece rondas da polícia militar à aquelas que possuem medidas protetivas. A Cidade Azul é uma delas. Essas medidas podem ser reivindicadas por quem está sofrendo de violência e são de dois tipos: as que obrigam o agressor a não praticar determinadas condutas e as que são direcionadas à mulher e seus filhos, visando protegê-los. “A Rede Catarina faz esse serviço, que é um acompanhamento para prevenção da reincidência da violência. Isso porque quando a mulher pede uma medida protetiva muitas vezes o agressor acaba descumprindo a medida, invadindo a casa”, expõe Celina. O programa visa proteger e evitar momentos como, por exemplo, o de Ana*, de São Ludgero, que teve sua residência invadida, móveis quebrados e roupas íntimas rasgadas pelo ex-companheiro.

A delegacia da mulher é outro local onde se pode conseguir auxílio. A partir dela é possível também obter ajuda psicológica. Além disso, em Tubarão há um coletivo feminista chamado Plena. Embora não façam por si mesmas atendimento às mulheres com problemas neste sentido, o grupo está com um cadastro aberto de voluntários para acolherem vítimas de qualquer tipo de violência.

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