Protagonismo feminino no esporte: quebrando barreiras e preconceitos

Muitos esportes são associados mais ao universo masculino do que ao feminino As maratonas, por exemplo, antes de serem mistas, era espaço apenas para homens. O karatê também é um esporte mais lembrado para homens do que para mulheres e uma modalidade onde muitas vezes elas sofrem preconceito.

É o caso da jovem tubaronense Alice Miranda, de 15 anos, que já conquistou diversas medalhas e títulos em nível mundial no karatê. Ao ser questionada sobre o machismo e o preconceito que enfrentou, Alice relata que “no começo, sempre escutei muito que karatê não é para mulher. Mas se formos parar para pensar, as mulheres, hoje em dia, são as que mais se destacam dentro do esporte”. Alice acredita que as mulheres não podem se abalar pelo o que os outros falam. Elas têm que mostrar que podem ter direitos iguais aos homens. ”Até porque não somos diferentes. Acho muito legal ser mulher e estar no esporte, nós mulheres só queremos igualdade porque não somos diferentes dos homens e vamos lutar dia após dia para mostrar isso”.

A percepção machista de que as mulheres não podiam ser competitivas imperava em todas as modalidades, fazendo com que o esporte feminino sempre fosse ignorado, desprezado e muitas vezes abandonado, sem público, sem recursos e sem investimentos. As lutas feministas por direitos iguais ajudaram a modificar esse cenário durante o século XX. Mas, em várias modalidades, as mulheres recebem muito menos do que os homens, que possuem mais público e, portanto, mais demanda para os espetáculos. As mulheres sofrem ainda com uma visão machista impregnada na sociedade que a coloca como “sexo frágil”, que é incapaz de se sair bem em algo que é considerado “coisa de homem”.

As mulheres praticam menos horas de esporte do que os homens. Essas informações estão no Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional do Brasil – Movimento é Vida: atividades físicas e esportivas para todas as pessoas, divulgado em 2017 pelas Nações Unidas. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) afirma também que a falta de incentivo para a prática de esportes entre as mulheres nas escolas faz com que, no Brasil, apenas 25% das estudantes do 9o. ano do ensino fundamental pratiquem ao menos 300 minutos das atividades físicas por semana. Dentre os meninos, esse percentual chega a 43%. No sul do país, 27,2% das meninas praticam ao menos 300 minutos de esportes em uma semana, enquanto 47,9% dos meninos praticam atividades físicas.

Invertendo essa lógica, existem mulheres que, ainda jovens, têm essa capacidade de “nadar contra a corrente” e enfrentar o preconceito das pessoas, se destacando e sendo protagonista no esporte, como Alice. “Eu comecei o karatê com 12 anos e desde pequena sempre fui muito ligada ao esporte, já fiz vários esportes, mas sempre fui muito apaixonada pelo futebol e karatê. ” Alice relata que, com dois meses de treino, disputou seu primeiro campeonato brasileiro, no Rio de Janeiro, onde conquistou sua primeira medalha de ouro. “Eu vi que lá era apenas o começo de muita coisa que eu tinha pela frente e me senti muito mais motivada em continuar meu sonho, que era me tornar uma atleta de seleção brasileira e algo a mais.”

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As discrepâncias entre homens e mulheres no esporte também podem ser explicadas por problemas culturais. As mulheres sempre usaram a maior parte de seu tempo para atividades domésticas, tendo pouco tempo para lazer. Outra situação que contribuiu para essa diferença nas práticas esportivas, foi o fato de que as mulheres foram proibidas durante o período do Estado Novo até a Ditadura Militar de praticarem esportes “incompatíveis com a natureza feminina”, de acordo com decreto de 1941, do governo de Getúlio Vargas.

Segundo o relatório do Pnud, um dos meios para reverter esse quadro seria uma maior participação do poder público nessa questão, o que se traduz em maior investimentos e apoios ao esporte feminino com a finalidade de incentivar as garotas a desde cedo praticarem esportes.

O treinador da academia Impacto, de Karatê, Fabrício de Souza, relatou que a aceitação das mulheres está melhorando no âmbito esportivo, mas que ainda há o que se possa resolver. “Está melhorando, principalmente a aceitação da sociedade, o preconceito está diminuindo, mas ainda precisa ser trabalhado nisso, incentivar cada vez mais as mulheres a praticar ou dar oportunidade que pratiquem diversas modalidades esportivas. Fabrício também acredita que outra saída é não direcionar para as convencionais somente, como handebol, vôlei, mas sim, para todas as modalidades esportivas, possibilitando todas as vivências possíveis. “Para que elas possam ter todo o seu desenvolvimento e consigam escolher o esporte que elas mais se adaptam e sintam mais prazer em praticar”.

Fabrício ainda comentou sobre a maturidade das atletas. “As mulheres atualmente, principalmente as adolescentes, demonstram muito mais maturidade, determinação e objetivo palpável em cima do que elas almejam, com isso, elas conseguem traçar o caminho necessário para atingir o que querem”.

Fabrício contou que cerca de 50% dos atletas de alto rendimento e que disputam competições são mulheres. “Hoje, os melhores resultados que nós temos em competições vêm do público feminino. Para se ter uma ideia, a nossa equipe atual campeã dos joguinhos abertos de Santa Catarina vem do público feminino, enquanto a equipe masculina ficou em terceiro lugar”. Nos jogos abertos de Santa Catarina, a equipe feminina também é atual campeã enquanto a equipe masculina conquistou o terceiro lugar. “No último pan-americano realizado em Guayaquil, da nossa cidade, foram oito atletas, sete atletas mulheres e apenas um menino.”

Apesar do crescimento em atuações na área ainda ainda ser menor do que o dos homens, nas últimas Olimpíadas a participação feminina foi considerável, com cerca de 45% dos participantes do sexo feminino. O próprio Comitê Olímpico Internacional e entidades como a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) já se posicionaram sobre o tema e cobram mais ações de incentivos à entrada de mulheres no esporte. Dentre as ações da Conmebol nesse sentido, está a exigência de times femininos para as equipes que forem disputar a libertadores. Após a exigência da entidade sul-americana, a CBF também começou a exigir a montagem de times femininos adultos e de base, para as vinte equipes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol. Essas ações, no entanto, não significam uma profissionalização do futebol feminino, mas representam um avanço e um apoio no crescimento do esporte feminino no país e no continente.

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