Tragédia em Saudades: como esse episódio refletiu no município de Tubarão

Além de ser um local de aprendizado e desenvolvimento, as escolas também são espaços de diversão e interação das crianças. Por isso, é fundamental que elas se sintam seguras. (Imagem: Marcelo Becker/PMT).

Em meio à pandemia mundial que vivenciamos, podemos dizer que, paralelamente, também estamos lidando com outra. Mais barulhenta, que acontece há mais tempo e que vem crescendo em uma velocidade preocupante: os episódios de massacres e ataques em ambientes escolares. Recentemente, o Estado de Santa Catarina acabou tendo a sua primeira tragédia escolar neste sentido, o ataque a uma creche no município de Saudades, no Oeste, que aconteceu no dia 4 de maio de 2021 e fez cinco vítimas. 

O episódio acendeu uma série de preocupações e dúvidas referentes à segurança escolar, entre toda a sociedade, como os profissionais, os alunos e os pais. Cassia Fabiane R. do Nascimento, de 26 anos, mãe de Gael Silva Ruidias, que recentemente completou um ano, foi uma delas. Há três meses convivia com a dor da saudade, ao deixar, todos os dias pela manhã, o pequeno no Centro de Educação Infantil (CEI) Algodão Doce. 

Apesar do pouco tempo na instituição, a mãe diz já ter notado mudanças no desenvolvimento de Gael. (Imagem: Arquivo Pessoal).

Agora, seu sentimento se transformou em preocupação contínua. “Antes, ir para escola não me preocupava tanto, mas eu sei que é para o bem dele. Hoje, a minha preocupação seria que acontecesse a mesma coisa que aconteceu em Saudades, ou algo parecido. Na verdade, a gente fica preocupado com tudo, né? Se antes desse episódio já ficávamos assim, agora mais ainda”, cita a jovem. 

Assim como Cassia, o sentimento de insegurança também é o mesmo de todas as autoridades da região. Por mais que o episódio tenha acontecido a quase 600 KM de distância de Tubarão, o ataque causou alerta e fez com que a fiscalização fosse redobrada nas 46 instituições de ensino municipais. 

O secretário de segurança, trânsito e patrimônio do município, Evandro Almeida, informou que todas as escolas e creches passaram por uma vistoria detalhada nas dependências para avaliar a segurança dos estudantes. “Devido ao último acontecimento, percebemos o quanto era necessário visitar as nossas escolas e ver se existia alguma limitação e segurança mediante a isso. Então, a Guarda Municipal prontamente visitou os ambientes, para ver como está funcionando a questão da entrada e saída das crianças nas escolas”.

Ele relatou, ainda, que algumas, por causa da pandemia, estavam com duas vias de acesso ativas, para a entrada e saída dos pais, evitando a aglomeração. Mas, com o ocorrido, esses ambientes foram orientados a agirem de outra maneira. “Fomos em todas as escolas e aconselhamos sobre, para ter tranquilidade e garantia de que o acesso estaria sendo limitado neste período de entrada e saída”. 

Como ocorreu na creche de Gael. A mãe do menino menciona que notou essa mudança no outro dia após o ataque. “A gente entrava pelo portãozinho, deixava as crianças e saía pelo portão grande, da garagem. Só que agora ele está fechado. Então entramos um por vez e saímos pelo mesmo lugar”.

Segurança escolar: tema é pauta frequente no município

As medidas de seguranças acontecem há algum tempo, como a visita dos Guardas Municipais na frente das escolas. Antes, o que acontecia, com menor frequência, tinha como objetivo auxiliar na entrada dos estudantes e em questões de trânsito. “Não existia nenhum tipo de fiscalização nas escolas deste tipo que aconteceu essa semana, pra ver portões e acesso de pessoas no local. O que existia era o controle para saber se tudo está em ordem, como veículos, ajuda na travessia e algo neste sentido”, informou Evandro.

A Guarda Municipal de Tubarão procura realizar diversas ações nas escolas do município, para garantir a segurança dos alunos. (Imagem: Marcelo Becker/PMT).

As instituições escolares possuem também interfones e rigidez na segurança com as crianças. Como medida de precaução, os estudantes só podem ser levados embora pelos pais ou responsáveis, que constam nos registros. Caso não puderem buscar, precisam ligar para a escola e avisar sobre essa alteração, informando o nome de quem vai buscar e o motivo.

Além dessas orientações, em março de 2021, a Prefeitura Municipal de Tubarão publicou uma matéria sobre a implantação de câmeras em todas as unidades de ensino municipal. Depois de dois meses, todas já possuem o sistema de segurança e 83% já estão com a fiscalização ativa, acontecendo em tempo real. As outras 17%, apesar de já terem as câmeras, ainda não contam com o uso da ferramenta, pois a equipe ainda precisa passar por um treinamento para saber sobre o funcionamento do equipamento. 

Esse é um pensamento positivo, afirma o diretor-presidente da Fundação Municipal de Educação, Maurício de Souza. “Eu sempre costumo dizer que é importante não nos sentirmos seguros em lugar nenhum, sabe porquê? Quando nos sentimos seguros, nós acabamos relaxando e aí que ficamos ainda mais vulneráveis. Precisamos estar sempre pensando nos preventivos, estar sempre atento a tudo o que acontece”. 

Ele ressalta, também, que as escolas são muradas e possuem guardas noturnos para evitar roubos, e alguns vigias no período diurno. Além de estarem conveniadas a uma estratégia de policiamento, uma organização entre comunidade e segurança pública.  “Como eu disse, apesar de tudo isso, não nos dá o direito de relaxar. Precisamos estar sempre atentos. Um exemplo muito importante é a rede de vizinhos da Polícia Militar. Todos os moradores próximos às escolas, se notarem algum movimento estranho, devem acionar a Polícia Militar, a Guarda Municipal e assim por diante”. 

Cronologia: episódios de ataques escolares no Brasil

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Bullying: um problema crônico que precisa de prevenção 

O primeiro ataque que podemos recordar, inserido na memória social, é o Massacre de Columbine, em uma escola do Colorado, nos Estados Unidos, há mais de 20 anos, que matou 15 pessoas, incluindo os dois atiradores. Depois disso, episódios como estes se tornaram mais frequentes e acontecem em diversos lugares do mundo. No Brasil, o primeiro registro em grande escala foi em Realengo, no Rio de Janeiro, que contou com características semelhantes ao ocorrido em Columbine.

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Após esses acontecimentos, surgiu uma pauta muito debatida na sociedade: o bullying. Como, por exemplo, esses dois casos citados acima. Ambos os crimes tiveram como motivação o bullying sofrido enquanto seus realizadores estavam estudando, além da rejeição dos colegas e a solidão enfrentada durante todo o período escolar. Embora possa acontecer em diversos lugares, é na escola que a prática toma forma, nome e sobrenome

Em razão disso, o diretor-presidente da FME, Maurício, enfatiza que o tema precisa de um debate recorrente nas escolas e não somente após um episódio violento. “Como o caso de Realengo, um ex-aluno, que sofria bullying, entrou na escola armado e matou diversos alunos. Como ele se apresentou no portão? Se apresentou como um ex-aluno que ia dar uma palestra na escola. E vem a pergunta: quem não abriria o portão para um ex-aluno neste caso? Qualquer um abriria! Poderia colocar a melhor polícia do mundo, o que o policial ia fazer? Ia dizer que: uma boa alma, que veio fazer uma boa ação. Então nós precisamos continuar aumentando a proteção externa e interna, para que tragédias como esta não aconteçam”. 

Neste aspecto, ele ainda afirma que a Fundação de Educação orienta as 46 instituições de ensino municipal sobre o reforço do assunto dentro das salas de aula. Por isso, uma reunião interna, nesta sexta-feira (21), será realizada. “É evidente que, na medida que o tempo vai passando, nós vamos sentindo cada vez mais a necessidade de estar trabalhando a questão da saúde emocional dos alunos e ler esses sinais. Ora, se eu percebo que o aluno tem esses sinais, não preciso esperar que aconteça uma tragédia para ajustar isso”.

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Equipe: 

Texto: Laura Remesso (Repórter), Ana Luiza Cardoso (Editora) e Beatriz Godoy Taveira (Fotógrafa) 

Vídeo: Geovana Biudes (Repórter), Maria Júlia Machado (Editora) e Luiza Hennemann (Produtora). 

Áudio: Augusto Machado (Repórter), Bárbara Dias (Editora) e Emanuella Alves (Produtora). 

Editora-chefe: Lara Silva

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